Aqui não é como os contos de fadas que tem começo, meio e fim. Aqui tem dragões, fadas, elfos, unicórnios, espadas, arcos e flechas. Nada aqui é feito sobre regras, eu sou uma Rebelião pedindo, implorando por liberdade.
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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

10 anos sem você...

Você nasceu em 1930.
E morreu em 2001.

Uma vida curta para um homem com tantos planos.
Sua vida foi dedicada ao trabalho, e infelizmente a um casamento falho, que não deu em nada.
Na verdade, a unica boa que deu desse casamento foram suas duas filhas.
E você sofreu, durante anos por coisas tão bobas e estúpidas que nem valem a pena dizer.
E os anos se passaram e as coisas nem sempre foram boas.
Mas na verdade eu queria dizer o quanto eu sinto a sua falta nesses 10 longos anos.
Hoje você faria 81 anos, e você ao longo de todos esses 10 anos, teria me visto crescer, passar no colégio, veria eu entrar no colegial, sendo aquela mesma menina que jogou talco em você.
Me veria passar no colegial, ter a tão famosa e consagrada festa de formatura... falarem meu nome: Jade Devito, e eu então, receber o canudo que todo formando carrega, usar a beca, a festa, os amigos, a comemoração, mas você não estava lá para entrar comigo, você não estava lá para compartilhar comigo.
Você não estava lá.
E quando eu terminei? Mal sabia o que fazer da minha vida? E aonde você estava para me guiar? Para me ajudar? me dar alguma solução?
E dai tive a sugestão de fazer Fisioterapia.
E a ansiedade do vestibular? E aquilo do passo ou não passo?
Nossa, quase cinco horas depois de tanto quebrar a cabeça, de tanto pensar, e com as mãos já cansadas, eu saio, e aonde está você?
Você não estava lá.
Ai quando eu entro na faculdade, e vejo os quase formandos do 4º ano, e via cada paciente, com sua dificuldade, com sua limitação, e eu assim pude ver um mundo de oportunidades, um mundo ilimitado de opções e de grandes maneiras de contornar toda aquela situação.
E cadê você para me dizer: Vai lá fia, o Vô confia em você!
Cadê?
E dai os anos foram se passando, e cada vez mais eu ia crescendo, me tornando não mais aquela menina, mas uma quase mulher, mas somente aos olhos dos outros, porque aos seus olhos, eu sempre seria a menina., a criança.
E quando chegou o último ano, literalmente a hora H, os atendimentos ali na minha frente, as patologias gritando por socorro, os pacientes com seus sorrisos sempre tão amarelados, de não saberem como seria o tratamento e como seriam tratados.
E eu com um sorriso que se estendia até minha alma, porque em cada paciente em via um pouco de você, da sua doçura, da sua gentileza, do seu cuidado, do seu rastro.
E quando fui ao Hospital, ali sim seria a minha prova de fogo, eu sabia o que tinha acontecido com você, na verdade mais ou menos, porque dentro dos Hospitais e das UTI's muitas coisas são afanadas, infelizmente.
É hipocresia dizer que não, mas é sim. Muitas coisas são guardadas a segredos de sete chaves. E nós? Nos calamos.
Quando fui atender o meu paciente C.A, meu querido e doce dos olhos Azuis, vi tanto, mas tanto de você, senti que ali eu tinha que reunir - me, fazer tudo que estava ao meu alcance para garanti-lo vivo.
E quantas lutas nós, eu e meu paciente travamos juntos.
Era como se você estivesse lá, me ajudando, me guiando, guiando cada aparelho, manuseando a minha mão para que fosse na direção correta, para que nada desse errado, e eu pudesse fazer o que havia de melhor para ele.
Quando ele teve uma crise, nossa; eu não sabia, intercalava o seu rosto com o dele, intercalava as minhas memórias do seu sofrimento, com a minha realidade do sofrimento dele.
Eu não sabia nem tinha condições de resolver sozinha.
Chamei um "anjo", minha supervisora, que com seu excelente profissionalismo conseguiu deixar o meu paciente, meu companheiro, meu amigo bem.
Eu sai e chorei, porque ali eu vi você, e pensei: Porque eu não pude ajudar? Porque isso, ou qualquer que seja não poderia ter acontecido depois?
Graças a Deus o meu companheiro ficou vivo durante muito tempo, meus olhos azuis, quando foi o momento de me despedir, choraram, de seus olhos, daqueles oceanos profundos, lágrimas doidas saíra, de sua boca, palavras sofridamente foram exclamadas, estava tão fraco, tão chateado.
E eu fiquei sem os meus olhos azuis, como fiquei sem você meu cabelo grisalho, meu italiano, meu companheiro.
E quando chegou o final de toda essa jornada, a tão chegada hora do Adeus.
Era hora da festa, da comemoração, do momento onde eu estaria livre para abrir horizontes, quebrar padrões, e deixar aquilo que era limitado um dia em ilimitado.
E eu me perguntei mais uma vez: Aonde você estava? Você estava longe, muito longe.
E ai eu ainda pensei, quem iria a essa comemoração? Metade da minha família está em São Paulo, e não há convites a todos!
Ai pensei que a única coisa que eu queria era você.
Era você do meu lado, me olhando e dizendo: Você cresceu, e hoje se tornou o que eu queria que você se tornasse, não médica, não rica, não inteligente, nada disso.
A menina boa, doce, meiga, a que ama as coisas boas da vida, isso sim, os valores, por menores que tenham sidos, você guardou. Não se estragou ai pelo mundo, não mudou. Não quis o que estava além do seu alcance.
E para minha surpresa, quando tenho a primeira comemoração, quem estava lá? Você. 


O homem que eu tanto amei, estava lá, quando eu mais precisei na comemoração mais importante da minha vida, você estava lá, do meu lado. Na coisa que eu mais amo e mais amei fazer na vida, que é cuidar de gente, é curar gente, e você estava lá.
Porque eu queria ter cuidado mais de você, curado você, tirado todas as suas dores, restaurado seu pulmão, com o meu ar, renovar seu corpo, sua pele, com o meu corpo, com a minha pele, renovar sua visão com os meus olhos, consertar seu coração, doando o meu.
Se eu pudesse eu te daria tudo em troca de algum tempo a mais com você.
Hoje você estaria fazendo 81 anos, você estaria mais velhinho, mas seria tão amado, eu faria de tudo, tudo pra te ter aqui comigo.
Eu daria tudo pra te ter aqui.
Você foi o homem que eu mais amei, e apesar de tudo, de não poder ter ficado mais perto de você eu hoje entendo, aonde você estava, porque eu não te via... alguém vê alguém quando se está dentro do coração?
É lá que você reside, é lá que tenho guardado todo o meu sentimento por você.
Eu sei que ainda demorarei anos para te ver, mas se puder as vezes fazei-me uma visita.
Aqui na terra, nesse lugar tão besta do qual a gente vive, tem gente que te ama muito e que sente muito a tua falta.
Não vai pra mais longe, aqui tem uma besta que você chamava de atutita que ainda sente falta desse apelido.
Tem uma besta que morre por você.

Não se esquece tá, io te amo, seu caipira. rs





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