Eu não liguei quando acordei e vi o banheiro todo molhado,
quando vi as marcas da sua bota no meu tapete que eu havia acabado de lavar.
Não liguei quando vi minha mesa toda bagunçada com suas coisas, quando vi que havia deixado inúmeros recibos de conta.
Não me importei quando você misturou seus livros aos meus. Quando fazia sujeira ao preparar o chimarrão.
Eu não me importei quando te vi andando pela minha casa, quando ia de um cômodo ao outro, não me importei de ver meu sofá cheio de cobertas, de ver que você entrava e saia de casa.
Eu não me importei.
Não liguei quando vi que havia deixado sua bota aqui, ela lá, ao lado do sofá...
Não liguei quando deixou meu sofá uma zona, cheio de roupas e malas, para mim, estava bom, eram as suas roupas.
Não liguei quando lhe vi deitado em minha cama, alisando a cachorrinha, quando dizia que não estava frio, quando zombava das minhas mãos frias.
Eu não me importei quando bagunçou meu quarto, minha casa, quando bagunçou minha vida, ou até quando bagunçou meu coração. Apesar de não ser adeptas a bagunças, mas era uma mistura de nossas coisas, nós já éramos um.
Quando ia dormir e percebia que seu cheiro havia ficado em mim, que havia uma misura de sentidos que jamais havia sentido, e que para mim, fazia todo o sentido.
Que ironia, você mal havia chego e eu já me sentia tua, como se a gente já tivesse muitos anos de história, como se não fosse da primeira vez, como se nada fosse novo, mas tudo já conhecido, decifrado.
Já era tudo nosso, tudo junto, já era nós,
Eu não me importei e não me importo, de dividir a casa, a comida, o teto, as roupas... quero dividir a vida, os sonhos, os planos...
Quero dividir as coisas, para enfim, somarmos nossas vidas e sermos um.