E
esse medo da perda?
Esse medo do abandono, da ausência, da ida, da partida.
Nunca soube lidar bem com isso, sempre tive aflição das folhas que caem das
árvores, elas não deveriam cair. Os animais não deveriam morrer, as pessoas não
deveriam partir. Ninguém deveria ir, nem eu, e nem você. Talvez eu esteja
transferindo a dor, o medo, mas isso é normal, quem nunca transferiu a raiva? A
alegria? A tristeza? Somos humanos, erramos, acertamos, nunca sabemos direito
onde estamos, porque a vida é cheia de altos e baixos. Mas eu estou com medo,
de te perder, de não ter mais o seu sorriso, não ter mais o teu abraço, não te
chamar mais de mãe, não ouvir mais o "Jade, venha cá." Não está fácil
essa incerteza do futuro e, de repente, o outro alguém aparece e não sei mais,
é medo de perder tudo e todos, até porque a morte me tirou tudo e todos que
mais amei na vida, na hora que mais precisei, na hora que não estava preparada,
ela veio e arrancou com raiz e tudo, como o lenhador que corta uma árvore
gigante e larga lá, sozinha, nada faz para ela, nem planta outra no local, e
nem tira a raiz, ela simplesmente larga a árvore lá, para ficar sozinha, é
assim que me sinto neste momento. Eu não vou suportar perder você, vocês....
Não está sendo fácil essa dúvida, de quem estou com medo de perder? Talvez seja
os dois? Porque meu amor é tão grande por ambos? Não dá pra entender e nem para
compreender. É como estar esperando um resultado, você nunca sabe se vai dar
certo ou não, a dúvida é grande, a expectativa e a decepção são proporcionalmente
iguais, de forma que se torna impossível medir. Eu não posso te enterrar, não
posso enterrar nossa história, ela não começou para terminar a sete palmos de
terra, não estou preparada e talvez nunca esteja. Eu não vou te enterrar, não
foi isso o prometido a nós, não foi isso que nos foi profetizado, eu não posso
e não vou! Há o rufar dos tambores, todos esperando a queda, todos esperando
que tudo desmorone, mas eu lhe prometo, não vai! Haverá derramamento de sangue,
haverá guerra, batalhas serão travadas, mas estarei com você, não importa onde,
nem quando, mas olha só, de quem estou falando, não dá pra saber, é, talvez eu
esteja misturando tudo. Porque na verdade, eu tenho medo de perder ambos, que
confusão está minha mente e coração. Na verdade, eu estarei com ambos, até meu
último sopro, meu último suspiro, meu último compasso, minha última dança, até
meu coração resolver que quer descansar, até que meus olhos se cansem, até que
minha mente precise de repouso, até que meus ossos não sustentem mais meu
corpo, até que a vida se torne cansativa, que as flores não me tragam mais
alegria, que o sol não pareça ser tão azul como de costume, até que o barulho
da rua se torne estridente aos meus ouvidos, até que a vida me pareça
enjoativa. No fim das contas, não é que não sei quem tenho medo de perder, mas
só é somente o medo em si, sendo você ou ele, o medo é o mesmo, pois o amor é
imenso para ambos. Por isso, é apenas por isso, por favor, não vão embora.